Por Marco Antonio Jordão
Foto: Giorgio Armani S.p.A. acervo
Giorgio Armani foi uma pessoa marcante em minha vida, e eu tive o primeiro contato direto com alguns produtos de sua marca principal no início dos anos 90 em São Paulo, por meio do querido e também já falecido André Brett. Por volta de 1993, havia uma pequena loja com artigos da Giorgio Armani na icônica esquina da Oscar Freire com a Bela Cintra.
André, nascido na Hungria, chegou ao Brasil ainda criança e começou a trabalhar com moda na Vila Romana, empresa fundada por seu pai em 1953. Com o avanço dos anos ele conduziu o licenciamento de diversas marcas internacionais no Brasil: Pierre Cardin, Yves Saint Laurent, Calvin Klein, Christian Dior, Zegna e Giorgio Armani.
Na minha opinião a importância de André Brett como pioneiro para o mercado de moda de luxo no Brasil foi a mais significativa, como também em minha opinião, o Ricardo Almeida teve papel fundamental no aprimoramento e fabricação de costumes e ternos mais sofisticados e próximos das marcas de luxo internacionais. Dois ícones, dois heróis no cenário sempre difícil brasileiro.
Em 1994 adentrei na primeira loja da Giorgio Armani, na fantástica Rodeo Drive em Los Angeles, para comprar gravatas e camisetas. Lá me deparei com o primeiro look de um costume dark blue com um sapato na totalidade english tan (um tom de couro bronzeado, uma cor marrom-clara semelhante ao bege), que o vendedor que me atendeu estava usando.
Naquela época, eu estava começando a entender melhor sobre combinações mais sofisticadas entre roupas e sapatos, e a Giorgio Armani foi fundamental em meus estudos e aplicações.
Mais tarde em 1996, em Milão, tive a oportunidade de conhecer o Sr. Armani pessoalmente, pois a Mercedes-Benz (onde eu trabalhava na época) estava lançando o seu conversível de quatro lugares, o CLK, em parceria com a marca Giorgio Armani que havia redesenhado todo o seu interior. Um momento mágico e fantástico.
Daquele contato inicial, que também gerou uma série de desdobramentos ao longo dos anos que se seguiram, me transformei em um fã daquele Sr. e de sua marca que passei a usar desde então.
Ao longo de 50 anos, com emoção e paciência, Giorgio Armani construiu uma visão que se expandiu da moda para todos os aspectos da vida, antecipando eras com extraordinária clareza e pragmatismo. Ele foi movido por uma curiosidade incansável e uma profunda atenção ao presente e às pessoas. Ao longo dessa jornada, estabeleceu um diálogo aberto com o público, tornando-se uma figura querida e respeitada por sua capacidade de se conectar com todos.
Com atenção especial à cidade de Milão, na Itália, sede de sua empresa, para qual atuou em diversas frentes, inclusive ajudando a recuperar áreas deterioradas da cidade com a inauguração do museu Armani Silos, um espaço expositivo que celebra a sua carreira, abrigando seu acervo e sendo palco para exibições de suas coleções, como a que comemorou os 20 anos de sua linha de alta-costura, a Giorgio Armani Privé. O edifício, um antigo armazém de alimentos, foi reestruturado em 2015 para abrigar o acervo do estilista em quatro andares, organizados por temas em vez de uma ordem cronológica.
O nome "Silos" foi escolhido porque o edifício era usado para estocagem de alimentos, algo que Armani considerava essencial para a vida, assim como a roupa. Nele também há espaços dedicados a desfiles de novos e estilistas. Localizado no terceiro andar, o acervo digital interativo da marca oferece ao público acesso a um vasto repositório de arquivos, incluindo roupas, acessórios, esboços, vídeos de desfiles, fotos de campanhas publicitárias e revistas. O acesso à área de arquivo é gratuito, com um bilhete emitido para cada entrada no museu.
Giorgio Armani sempre fez da independência – de pensamento e ação – a sua marca registrada. Foi considerado o pai da alfaiataria moderna, e era conhecido por sua elegância atemporal.
Após iniciar seus estudos em medicina e trabalhar como vitrinista no La Rinascente em Milão, foi estilista para a casa de moda de Nino Cerruti onde aprimorou suas habilidades em design de roupas masculinas. Em 1975, com a ajuda do amigo e sócio Sergio Galeotti, fundou a Giorgio Armani S.p.A., entrando para o mundo da moda, tornando-se um nome de peso com seus ternos desestruturados e “power suits”, que revolucionaram a alfaiataria para ambos os sexos. Seu sucesso foi impulsionado em parte por sua presença em filmes e séries de sucesso como American Gigolo, Miami Vice, The Untouchables, Casino, The Wolf of Wall Street, Elysium, A Most Violent Year, com influências estéticas em Wall Street, Working Girl, Pretty Woman e por sua estratégia de vestir celebridades no red carpet de Hollywood, expandindo seu império para além da moda para incluir perfurmes, hotéis e mobiliários.
Apesar de ser fã de modelos icônicos de sapatos como o Oxford Wholecut, meu entendimento inicial sobre a aplicação dos modelos Derby no dia a dia, muito antes do meu trabalho com a Berluti e de ter iniciado junto com meus sócios a Adolfo Turrion, foi com o Sr. Armani que eu compreendi a necessidade do conforto para os pés que um modelo Derby permite. Pois para quem como ele ficava horas de pé em um desfile, bem como seus modelos, o inchaço comum dos pés ao longo do dia, só pode ser aliviado com o enlace mais afrouxado que as abas desse modelo permite.
Nas palavras do próprio Sr. Armani: "Gostaria de ser lembrado como alguém que teve a coragem de olhar além do imediato, algo que não existia, alguém que respondeu a uma necessidade que ele sentiu na sociedade, oferecendo ferramentas que permitiram que as pessoas se expressassem ao máximo."
E assim sempre o será.